Shoppings de Salvador tiveram 200 lojas fechadas em 2016
Apesar do bom número de contratação temporária – são previstas 2 mil vagas para este final de ano -, o índice de loja fechada dentro dos centros comerciais assusta os lojistas: foram 200 em Salvador, somente no ano passado.
“Temos três anos nessa crise violenta e não temos a compreensão do empreendedor. Nós precisamos estar mais juntos e o diagnóstico é o primeiro passo disso”, disse o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio), Carlos Andrade, nesta segunda-feira (30), durante a apresentação do Diagnóstico da Relação Lojistas e Shoppings Centers, encomendado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) e a própria entidade. Ele defendeu o documento como um pontapé para melhorar a situação dos centros comerciais.
O diagnóstico aponta ainda que 75% das lojas de shopping são pequenas, e faturam entre R$ 40 mil e R$ 60 mil por mês, de acordo com estudo da Associação de Lojistas de Shoppings (Alshop).
Para o presidente da Federação da Câmara de Dirigentes Lojistas (FCDL), Antoine Tawil, o momento é de se voltar para as lojas menores.
“Um equipamento não pode viver apenas de lojas-âncoras, precisa ter uma razoabilidade no conjunto do empreendimento”, pontua Tawil.
Ainda de acordo com o estudo, o shopping é composto por 3% de lojas-âncora, 2% de megalojas, 1% de lazer e 15% de alimentação.
Um dos motivos para o fechamento das lojas é o alto custo dentro do shopping center, pontua Felipe Sica, coordenador da Câmara de Empresários de Shopping Center.
“As receitas caíram e os custos aumentaram, e com isso, uma série de lojas fecharam. Hoje, o custo de ocupação pode chegar a 25% do faturamento e uma loja não consegue sobreviver assim”, explica Sica.
O diagnóstico mostra que o índice está acima do que é recomendado pelo International Council Of Shopping Centers, que indica que o custo de ocupação saudável não deve representar mais do que 10% do faturamento da loja.
“Esse número (de 200 lojas fechadas) é menor do que 10% dos pontos de vendas, que são 2.300. Além disso, esse número é cinco vezes menor do que o que ocorre em loja de rua. Então, o lojista tem uma segurança maior dentro do shopping”, defendeu o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Edson Piaggio.
Gastos fixos
Uma pesquisa realizada pela Consulting – também responsável pelo diagnóstico – com os lojistas de Salvador aponta que o custo médio de ocupação é de 19,63%. Só o aluguel médio dos lojistas é de 10,2% do faturamento. Além dele, também entram na conta o condomínio, que é cerca de 6,2%, o Fundo de Publicidade e Propaganda (FPP), 1,9%, e o IPTU, 0,8%. O setor que tem maior custo médio é o vestuário, que dedica 21,4% do faturamento para os gastos fixos. Já o menor custo médio é das lojas de calçados, com 11,3%.
A insatisfação com o preço do aluguel e do condomínio é vivida diariamente pela empresária proprietária da loja de roupas para criança Camarim, Vera Pereira. Ela conta que é comerciante há 20 anos e que, desde 2014, mais precisamente após a Copa do Mundo, o comércio vem perdendo sua força.
“Nesse histórico, 2016 foi o pior ano. Mas esse ano não melhorou não. E o ano que vem vai ser ainda pior, porque é ano de eleições e de Copa. Eu nunca vi ano de eleições ser bom para o comércio”, analisa Vera.
Ela conta que a soma de aluguel mais condomínio figura 25% de todo o seu orçamento mensal. Para conseguir sobreviver com tal receita, a empresária teve que reduzir o quadro de funcionários de cinco pessoas para duas. “Antes era duas de manhã, duas de tarde e uma no intermédio. Hoje, fica uma de manhã, uma de tarde e eu no intermédio. Quando alguém precisa folgar, eu que venho abrir ou fechar a loja”, conta.
13º aluguel
Para além da crítica do preço do valor mensal de locação, Vera critica o pagamento do 13º aluguel. “Você já pagou 13º aluguel da sua casa? Isso não existe. Eles dizem que o valor é anual e você paga em 13 vezes, mas isso não existe”, reprova. “Eu tenho 50 anos de idade e 20 de comércio. Com todo esse custo, se eu deixo de ser lojista, eu vou fazer o quê?”, protesta.
Além da loja no shopping, Vera tem comércio na rua há duas décadas. Ela conta que apesar de ter custos menores com aluguel, a loja de rua sofre por conta da falta de segurança e, caso não tenha, do estacionamento. “A gente achou que ia melhorar com a instituição do shopping pago, mas isso não aconteceu”, comenta.
Fonte: Correio