201407.09
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Garantias podem ajudar a manter fusão da Oi

Nas negociações para salvar a fusão entre a Oi e a Portugal Telecom (PT), o principal desejo das companhias é contornar o problema criado pela aplicação bilionária da tele portuguesa numa holding de um sócio em dificuldades sem ter de mexer na relação de troca da operação.

A mudança nessa relação, no entanto, parece ser ainda a opção mais provável. As empresas querem evitá-la porque a alteração poderá atrasar o processo de união das teles e causar novas dificuldades, como a objeção dos minoritários da Portugal Telecom.

A opção preferida é evitar que a PT tenha perda total com a aplicação de € 897 milhões realizada em papéis comerciais, sem garantias, da Rioforte, holding do Grupo Espírito Santo (GES) que passa por problemas financeiros. Uma possibilidade na mesa é renegociar o papel colocando pelo menos garantias à aplicação. No jargão financeiro, o procedimento é conhecido como “colaterização”, quando um devedor oferece uma garantia de pagamento de um título, para evitar entrar em “default”. O Valor apurou que essa negociação está em andamento e vem sendo acompanhada, inclusive, pelo governo de Portugal, que está seguindo de perto a crise num dos principais grupos do país. O Banco de Portugal vem tentando blindar o Banco Espírito Santos (BES) da atual crise financeira que passa seu controlador e atuou na indicação do novo presidente do BES. Procurada, a Oi não comentou.

A Portugal Telecom investia os recursos no BES e o banco assessorou a aplicação na Rioforte. Ao justificar a operação, a PT citou taxas atrativas e ainda que “no passado teve boas experiências com o BES”. Como o banco assessorou a aplicação, também está envolvido no processo de renegociação.

Quem avalia que essa negociação para a obtenção de garantias parece muito complexa, afirma que se houvesse possibilidade de garantir uma parte relevante ou a totalidade dos recursos à Portugal Telecom isso já teria sido feito antecipadamente ao vencimento, dia 15, diante de toda a especulação no mercado, que fez despencar os papéis de Oi e PT e colocar dúvidas sobre a fusão.

Se houver a possibilidade de rolar a aplicação e conseguir uma garantia para pelo menos uma parte dela, já serviria para reduzir as perdas da PT e, se não evitar, diminuir uma eventual alteração na relação de troca prevista na fusão. Se a PT perder a totalidade dos recursos, que equivalem hoje à metade de seu valor de mercado, já há um consenso de que a mudança na relação de troca será muito relevante, o que equivale dizer que a fatia dos portugueses na companhia resultante da fusão vai diminuir significativamente. Os minoritários da PT poderão contestar essa redução. A grande preocupação do mercado é saber, também, se as empresas irão esclarecer as circunstâncias em que a aplicação foi feita, em meio ao processo de fusão com a Oi e sem que a tele brasileira tivesse sido informada, conforme afirmou a própria Oi ao pedir, publicamente, esclarecimentos à Portugal Telecom.

Na imprensa portuguesa, o “Expresso” relatou que há informações indicando que a Espírito Santo International (ESI), a holding controladora do grupo, já teria deixado de pagar algumas de suas obrigações, que venciam em 26 de junho. E o “Publico” relatou a falta de informações sobre se o BES vai ou não renovar os empréstimos às empresas não financeiras do GES. Fonte:Valor Econômico, por Ana Paula Ragazzi