201311.22
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Dona do CompraFácil pede recuperação judicial

A Hermes, empresa fundada em 1942 que inaugurou a venda por catálogo no Brasil, deu entrada ontem, no Tribunal de Justiça do Rio, em um pedido de recuperação judicial. A iniciativa, conduzida pelo escritório Alvarez & Marsal , busca equacionar uma dívida de quase R$ 600 milhões – quase toda oriunda do esforço da empresa para se consolidar no segmento de vendas on-line, onde opera a marca CompraFácil.

Ao final do processo, os acionistas – todos herdeiros do fundador – esperam retomar o foco nas vendas por catálogo.

O diretor geral da Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes, divide a companhia em três operações: a Hermes, a CompraFácil, e a logística para operação de terceiros. Como as três operam com o mesmo CNPJ, a situação de uma acabava contaminando a outra.

Para Gomes, a empresa cometeu cinco erros estratégicos: 1) apostou na complementariedade das operações; 2) se alavancou para ampliar os investimentos no CompraFácil, após a crise de 2011 no setor de vendas pela internet; 3) subdimensionou a demanda do segmento por capital de giro, decorrente das vendas a prazo, que não existem no catálogo; 4) apostou em uma infraestrutura logística complexa que exige escala para se viabilizar, sem considerar a tendência de aumento da concorrência e a queda das margens; e 5) não tomou as decisões que precisava quando viu que o retorno esperado não aconteceria.

Como resultado, nos últimos três anos, o endividamento aumentou, o faturamento do CompraFácil caiu e o da Hermes estagnou.

“Essa situação existe desde 2011, quando os acionistas perceberam que a situação ficaria difícil e iniciaram conversas com possíveis parceiros nacionais e internacionais. O problema é que essas situações exigem que decisões sejam tomadas e eles não tomavam porque estavam negociando. Isso só agravou a situação”, disse o executivo, que demitiu cerca de 450 empregados antes de começar o processo de recuperação.

Em conversa com os acionistas da Hermes há pouco mais de 20 dias, Gomes e os executivos que assumiram a seu lado a condução do processo – o novo presidente da empresa, Arthur Negri; o diretor de operações, José Luiz Volpini; e o diretor financeiro, André Bucione – identificaram as alternativas que vão desde parcerias estratégicas com empresas interessadas em desenvolver canais de vendas por catálogo até a venda da operação do CompraFácil. Algumas dessas opções já discutidas pelos acionistas, mas que esbarravam nos riscos de transmissão do passivo da empresa.

Segundo os executivos, as conversas para venda do CompraFácil e para parcerias estratégicas com a rede de vendas da Hermes continuam e podem ser fechadas rapidamente, a partir da aprovação do pedido de recuperação judicial, já que a iniciativa neutraliza riscos existentes. No caso do CompraFácil, além do Grupo Pão de Açúcar (GPA), cujo interesse já havia se tornado público, garantem que há outros interessados. “É uma marca reconhecida e uma operação relevante. Qualquer ‘player’ que assuma o CompraFácil ganhará espaço na liderança desse mercado”, disse Bucione.

No segmento de vendas por catálogo, a aposta dos reestruturadores é numa parceria estratégica na área de cosmético, segmento que mais vende no canal, mas ainda pouco representativo no portfólio da empresa. “É o que mais vende, mas existe uma forte barreira de entrada, que a Hermes, como a terceira em vendas por catálogo no país, pode ajudar a superar”, resume Negri.

As líderes em vendas por catálogo, Natura e Avon, respondem por 88% das vendas e na direção contrária da Hermes, têm diversificado a linha de produtos. A Hermes tem 80% dos 12% restantes das vendas por catálogo.

O grupo entra no processo de recuperação judicial sem débitos fiscais e com uma parcela de débitos trabalhistas decorrente da reestruturação em seu quadro de empregados nos últimos dias. Esses são os créditos considerados prioritários pela Lei de Recuperação Judicial.

A decisão mais drástica, na avaliação de Gomes, foi incluir os credores da Hermes – muitas pequenas e médias empresas – no bloco da recuperação. “Os fornecedores da Hermes são cerca de 1.500, menores e mais pulverizados, a maior parte ainda sem dívidas em atraso”, disse.

Dos R$ 600 milhões em dívidas, metade é com bancos – Itaú e Bradesco – e metade com grandes fornecedores, principalmente de linha branca, linha marrom e eletroeletrônicos. “Vamos utilizar a Lei de Recuperação Judicial para equacionar a situação com os credores, permitir que a empresa tenha fôlego para aproveitar a melhor época do ano para o varejo e viabilizar soluções para cada um dos negócios. Resolver o passado para olhar o presente”, resume Gomes.
Fonte:Valor Econômico, por Renata Batista