201303.27
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Brasileiro influencia política ambiental de Miami Beach

Ao andar pelas praias e ruas de Miami Beach, na Flórida, não são necessários olhos muito atentos para perceber a existência de uma política ambiental. A “Eco Art Gallery”, um projeto patrocinado por empresas para a limpeza de praias, distribui arte através de cestos de lixos com desenhos de mais de 200 artistas. Nos jornais e revistas da região, páginas de serviços promovem a importância da reciclagem do lixo. Um cinema com infraestrutura sustentável e focado em assuntos ecológicos já faz parte do cotidiano dos moradores e, em outubro, acontece o Terceiro Festival do Meio Ambiente do Sul da Flórida. Mas a cidade não era assim há uma década. As mudanças aconteceram depois da chegada do carioca Luiz Rodrigues, que ajudou a conceber o Plano Mestre de Sustentabilidade do município.

Rodrigues chegou aos EUA em 1979, formou-se em biologia marinha e fez mestrado em ecologia tropical do Amazonas pela Universidade de Santa Bárbara, na Califórnia. Mas quando se mudou para Miami Beach, em 2000, não imaginou aonde sua paixão pelo meio ambiente o levaria.

Ao constatar que a cidade estava muito atrasada em suas políticas ambientais, resolveu intervir. “Eu sentia a necessidade de trabalhar de baixo para cima, para poder agir com rapidez, para tentar mudar a mentalidade das pessoas e ajudar a preservar o planeta”, relata, sobre a motivação que o levou a se envolver com o movimento ambientalista.

Desde 2001, Rodrigues é diretor executivo da Ecomb – (Coalizão Ambiental de Miami e das Praias na sigla em inglês), uma organização não governamental que promove conceitos de sustentabilidade e tem como principais atividades educar a comunidade e os turistas para que diminuam o impacto ambiental, por meio da redução na emissão de gás carbônico, a conservação de energia e água e reciclagem.

Em 2007, a ONG desenvolveu um guia com os “conceitos de uma cidade sustentável” e, com apoio de políticos locais, criou o Comitê de Sustentabilidade, visando a facilitar a implementação de vários projetos e interferir diretamente nas políticas ambientais de Miami Beach.

Uma das primeiras ações da ONG foi fazer valer uma lei de 1992, que não era sequer lembrada. Ela previa que todos os edifícios comerciais, residenciais e condomínios deveriam oferecer aos seus moradores e usuários cestos para reciclagem do lixo, sob pena de serem multados caso descumprissem a lei. Com a campanha de divulgação da legislação, a demanda por cestos começou a aparecer e a reciclagem do lixo foi efetivada.

A partir de julho, uma nova lei entrará em vigor: o morador que não reciclar receberá multas que podem chegar a US$ 2.500. Leis como essa já existem em várias cidades americanas, como Charlotte, Cleveland, Boise e Flint.

Entre os projetos da Ecomb há os que visam a diminuição do trânsito nas ruas e a poluição, como o compartilhamento de mais de 1.200 bicicletas em cem pontos espalhados pela cidade, carros que podem ser alugados a US$ 9 a hora e quatro postos de abastecimento para veículos elétricos.

Em breve, a sede da ONG deverá passar por uma transformação e utilizará vários conceitos sustentáveis em sua estrutura. É lá que se encontra o único depósito para dejetos eletrônicos da cidade, o “ewaste”. Em 2011 uma tonelada foi coletada entre eletrônicos, lâmpadas e afins. Em 2012 foram duas toneladas e meia.

A reciclagem do lixo é uma das principais mudanças do município. A prefeitura terceiriza o serviço de coleta e reciclagem por meio de contratos com três empresas privadas. Uma delas, a Waste Management, é a maior do mercado americano, reciclando 15 milhões de toneladas de lixo por ano. A empresa opera 120 unidades nos Estados Unidos e Canadá e 42 delas utilizam o sistema de “single stream” – uma só esteira para todo tipo de lixo.

Trata-se de um investimento avaliado em cerca de US$ 100 milhões por ano durante os últimos cinco anos. Composta por aparelhos de alta tecnologia, a esteira única separa o lixo automaticamente através de ímãs, lasers, sucção ou ventilação. Até os plásticos são selecionados por categorias e divididos segundo sua qualidade. O material se transforma em oito milhões de commodities reciclados a cada ano comercializados em países europeus, asiáticos e latino-americanos, como o Brasil.

A unidade que recicla o lixo de Miami Beach, e que abrange cinco condados da região, trabalha com a esteira única, o que aumentou em 30% o volume de coleta e reciclagem, já que o lixo não precisa mais ser separado por material.

O morador recebe em casa uma grande lixeira de plástico resistente para coleta semanal em sua calçada. A área formada pelos cinco condados processa cerca de mil toneladas por dia, somando 240 mil toneladas ao ano a uma velocidade de 50 toneladas por hora. O orientador em educação comunitária da empresa, Shiraz Kashar garante que 90% do material coletado são reciclados. “Nós trabalhamos para educar comércio e condomínios de como é fácil aderir ao programa. Com isso podem economizar”, diz Elizabeth Wheaton, gerente de meio ambiente da prefeitura da cidade.

A média de reciclagem nos EUA é de 34%. Embora a Flórida ainda esteja abaixo desse índice, a perspectiva é alcançar 75% até 2020, resultado que fará grande diferença em um Estado com cerca de oito milhões de habitantes e onde cada um produz cerca de 2,5 kg de lixo por dia.

“Com perseverança, insistência e paixão, a gente consegue as mudanças. Sozinho não se faz nada, tem que ser o mundo todo”, afirma Luiz Rodrigues, que coleciona mais de 20 prêmios e é considerado uma das 50 pessoas mais influentes da Flórida. Ele gosta de citar Margaret Mead, famosa antropóloga americana: “Nunca duvide que um grupo pequeno de pensadores, cidadãos comprometidos, possam mudar o mundo. De fato, é a única coisa que pode”.
Fonte:Valor Econômico, por Claudia Dare